quarta-feira, novembro 10, 2010

Ela acordou naquela manhã mais angustiada do que o normal, estava cansada, dos velhos rostos, dos velhos lugares, das velhas frases desgastadas como um velho Jeans. Sentia a cabeça a rodar, só uma coisa lhe vinha a cabeça: tinha de ir embora dali. Pensou em todas as pessoas que amava, pensou no quanto sofreriam ao reparar que ela tinha ido embora, já não interessava. O desejo de travar um novo caminho, com novas descobertas, novos sentimentos, o desejo de desbravar o desconhecido, o desejo de ser livre, falava mais alto do que todos os sentimentos que carregava dentro de si. Sua alma estava velha, e ela precisava rejuvenescer, ela precisava viver, estava cansada de estar morta, estava cansada de tentar respirar, ela só queria viver em paz e se a felicidade estava longe dali, então ela percorreria o caminho que fosse preciso, e carregaria sempre o seu lar dentro do coração. Porque Deus daria asas a um anjo se o seu destino não fosse o de voar? Porque Deus daria a liberdade de um oceano se a água não fosse o seu lar?  Vivemos num mundo onde as regras são ditadas por um ditador qualquer, ela não obedecia a ditadores, ela era patriota da sua própria nação e esta chamava-se liberdade! Ela não nasceu para morrer, ela nasceu para acontecer, ela travaria qualquer luta que fosse preciso, tinha coragem o suficiente para seguir o seu caminho, mesmo que fosse sozinha. Correu pelo quarto, e jogou somente o que seria absolutamente necessário para dentro de uma mala. Escreveu um pequeno bilhete e colou na geladeira, não pediu desculpas pelo seu ato, mas tentou ser o mais amorosa possível para que ninguém se sentisse culpado por a sua partida. Deixou as chaves de casa na mesa de jantar, bateu a porta e partiu sem olhar pra trás. Quando chegou na rua, pela primeira vez, pensou aonde iria, e lembrou: "Sem limites para seguir". Entre suspiro ela saiu sem rumo, iria acompanhar o vento e tentar chegar em algum lugar. Fora uma viagem sem limites. Acompanhar o vento lhe parecia possível, pois sempre pensava em ser como vento, sem fronteiras e sem limites. Mas o fato em discordância com o ato impensado trouxe complicações. Ao notar que as fronteiras haviam sido tiradas, e que na imensidão da vida não seria mais necessário as normas e os dogmas, as leis e os limites, logo lembrou dos limites em que vivia dias atrás. Algo parecia estar errado, embora estivesse fazendo aquilo que tanto sonhou durante anos de sua vida, ela ainda não alcançava a felicidade. O vento, além de guiar seu caminho, trouxe lembranças de sentimentos frios, em alguns momentos, profundos calafrios, arrepios que penetravam no profundo da alma, houve um momento de tensão e expectativa dentro de si. Um transtorno inagualável, algo que fugia da normalidade, parecia um pesadelo, já não era um sonho, deixou de ser um conto de fadas. Lembrou do quarto, do bilhete, da porta de fechando. Foi quando resolveu abrir a mala, entre as poucas coisas que trazia, estava um diário e uma caneta. Assentou-se encostando num muro amarelo, pegou a caneta e começou a escrever vagarosamente:  Querido diário: Pensei ser melhor compartilhar esta verdade. Saí de casa, estou à companhia da solidão. Pensei que a liberdade seria uma companheira fiel e inseparável, pensei que ficaríamos apenas eu e ela, me enganei. Quando percebi, ela já havia convidado a solidão, a frieza, o desanimo, a lembrança, o pesadelo e tantos outras companhias que nem vou escrever. A liberdade me enganou. Acho que preciso de um tempo, até que é bom ser livre, mas era melhor quando a liberdade estava apenas em meus pensamentos, agora ela parece estranha. Quero encontrar a felicidade, estando eu com a liberdade ou não.... Tchau diário, vou indo. Foi um pequeno desabafo, o suficiente para recobrar as forças e voltar pra casa, onde percebeu que a felicidade não está no fim, mas no meio, ela está, e não será, fora difícil, mas deu pra aprender um pouco.


Perfeito. 

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